segunda-feira, 23 de novembro de 2009

ENTRE A FÁBULA E A NOVELA PÍCARA

Crédito da imagem: Beham, (Hans) Sebald (1500-1550): Die Dame und der Narr/The Lady and the Fool.

As histórias do ciclo "ROMAN DE RENART", que circularam na Idade Média, entre os séculos XII e XIII herdaram características das fábulas e de algum modo contribuiram para a caracterização da novela picaresca.

Pícaro, na história da literatura, é uma personagem-tipo dos romances e novelas dos séculos XVII e XVIII, surgidos na Espanha, com características daquilo que hoje chama-se malandragem.
O pícaro vivia de expedientes, transitando entre as várias classes sociais, das quais tirava seu sustento, enganando por ardis. Noutras, adquire também o papel de bufão.

Embora este tipo de personagem esteja presente em algumas obras da Antiguidade, como o Satiricon, de Petrônio, foi a partir da obra Lazarillo de Tormes, publicado na Antuérpia e na Espanha em 1554, que surge, sendo considerado o primeiro personagem com estas características hipócritas.
De Sancho Pança, de Miguel de Cervantes, ao Tartufo, de Molière, passando pelo Cândido, de Voltaire, inúmeros personagens retratam a figura típica e caricatural do pícaro.

O pícaro é qualificado como uma personagem de condição social humilde, sem ocupação certa, vivendo de expedientes, a maioria dos quais escuso.

O pícaro – anti-herói por excelência - possui uma filosofia de vida assaz particular: é materialista, primitivo, desleal, manifestando inclinação para a fraude e a vadiagem. Estébanez Calderón (2006, p.838), o principal guia na confecção deste verbete, traça do pícaro o seguinte retrato: abandonado por seus genitores, que, de ordinário, são de baixíssima estirpe, o pícaro fica entregue à sua própria sorte, o que o obriga a se valer de meios desonestos, como pequenos roubos, para sobreviver. Não é incomum ele se entregar à mendicância e servir a vários patrões, dos quais, também, recebe lições daquilo de que não se deve fazer para ganhar a vida. Entre os móveis de sua conduta, estão a fome, a miséria e a vontade de ascensão social, para o que, por sinal, submete-se a condições, às vezes, imorais e o seu tanto degradantes.

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